A ORIGEM
Os imigrantes que chegaram a serra gaúcha entre 1875 e 1920 saíram
essencialmente, de quatro das 20 regiões italianas. Região do Vêneto – 54%, das
Províncias de Veneza, Pádua, Rovigo, Beluno, Treviso, Vicenza e Verona;
Lombardia - 33%, das Províncias de Cremona, Mânua, Pavia, Milão, Brescia,
Bérgamo, Como, Varese e Sôndrio; Região de Friuli-Venezia Julia – 4,5%, das Províncias
de Údine, Pordenone, Gorizia e Trieste; Outras regiões da Itália 1,5%.
DADOS
A marinha mercante italiana não tinha vapores suficientes para
transportar os imigrantes, por isso a maior parte das viagens era realizada por
embarcações de nacionalidades francesa, inglesa, austríaca e alemã.
O peso dos navios era em média 10.566 toneladas, viajavam a uma
velocidade média de 18,5 km/h, a tripulação era composta de 200 pessoas e
transportavam em média 2.400 passageiros, o tempo de viagem era entre 28-40
dias até o Brasil, o consumo de carvão era de 100 toneladas dia, tinham seis
enormes caldeiras, seis casas de aço (divididas em quatro ruas). 1/3 do navio
era ocupado pelo motor.
PRIMEIRA E SEGUNDA CLASSE
A primeira e segunda classe era composta aproximadamente de 19%
dos passageiros. Os quartos, banheiros e salões de primeira classe, no
transoceânico, tinham o nível de um hotel de luxo, com acabamento em mármore,
móveis laqueados, alimentos preparados por um chefe internacional e música.
São mais comuns os relatos sobre a primeira do que a segunda classe. O
espaço do navio destinado aos endinheirados em nada lembrava aquele destinado
aos imigrantes. Com direito a quarto privativo e serviço de camareira, cada
cabine de passageiros tinha cama, sofá e espelho.
Oito em cada dez passageiros faziam parte da terceira classe. Os
dormitórios eram abarrotados e havia divisão entre homens e mulheres e no
feminino havia crianças de ambos os sexos e o calor beirava os 32ºC. Os
passageiros dormiam num espaço estreito chamado de cucceta e duas ou mais
criança podiam ocupar uma única cucceta. Havia latrinas masculina e feminina,
mas elas eram insuficientes e a noite urinava-se e defecava-se nos dormitórios.
Por volta de 1910, estabeleceu-se que deveria haver uma a cada 80
passageiros.
Na Itália, a alimentação era escassa. O cardápio trazia polenta à
manhã e à noite e minestra ou feijão ao meio-dia. Já a comida do navio,
distribuída por família ou grupo de oito pessoas, era relativamente abundante
e, possivelmente, melhor do que a de casa. Ao embarcar o responsável pela
família recebia um papel timbrado chamado rancho, para apanhar a comida na
cozinha, no horário das refeições. O rancho tinha sopa de massa ou legumes, um
prato de carne de gado ou ovelha, língua, batata, bacalhau, ovos, pão e 250ml
de vinho. De manhã, café com biscoitos.
DOENÇAS E FALTA DE
HIGIENE
Os passageiros eram examinados por um médico ou um comitê sanitário e
vacinados contra a varíola. Doentes graves permaneciam em terra. Os navios tinham um médico e um hospital
precário. Raros navios dispunham de espaço para o isolamento das doenças
contagiosas.
As condições sanitárias dos navios eram controladas rapidamente, e as
bagagens desinfetadas. Os passageiros só tomavam banho antes de partir e ao
desembarcar. Napolitanos assoavam o nariz com as mãos e as mulheres matavam os
piolhos dos maridos na frente de todos.
Além dos surtos de piolho, as doenças mais comuns eram o sarampo e a
cólera. Quando alguém morria, o corpo era colocado dentro de um saco de lona
com algumas pedras de carvão mineral para fazer peso. Depois de uma rápida
cerimônia religiosa, era lançado ao mar. Esse procedimento era necessário para
evitar o contágio dos demais passageiros.
O Código da Marinha Mercantil, de 1865, previa a proibição do embarque
de idiotas, surdos-mudos, mentecaptos e a obrigação da presença a bordo de um
médico, se houvesse mais de 150 pessoas no navio.
O clima da viagem dependia de três fatores: a qualidade do navio, as
variações climáticas e o grupo de imigrantes. O “mal do mar” era comum. O
imigrante Andrea Pozzobon relatou que pouco depois de levantadas as âncoras, o
enjoo começou “com vômitos e vertigens. Maridos semidesesperados acudiam
mulheres e seus filhotinhos.”
Os passageiros podiam permanecer no convés até o sinal de silêncio. Os
imigrantes lombardos jogavam mora e os vênetos jogavam cartas (trissete e
bisca). À noite, ouvia-se mulheres entoando canções de ninar e rezando.
PORÃO PERTENCES E ANIMAIS
Cada imigrante tinha direito a 100 quilos de bagagem, que não
deveria ultrapassar meio metro cúbico: eram caixas, malas, baús de todos os tipos.
Levavam roupas, roupas de cama, instrumentos de trabalho, moinho de café,
chapéus, sombrinhas, colchões, pente de tear, máquina de fazer macarrão,
relógio, espingardas, lampiões, navalhas de barbear, pedra de afiar, louças e
até rodas de carreta.
Perto da terceira classe, havia estábulos
de bois e cavalos, gaiolas de pombos e galinhas, engradados com coelhos e
carneiros. No fundo, o matadouro. Alguns animais eram abatidos durante a
viagem.
Na parte inferior do navio ficavam os depósitos de carvão, torrentes de
água doce, mantimentos de animais vivos, depósito de cabos, velas, roldanas,
tubos de descargas e depósito de bagagens.
Depois da unificação italiana a lira era igual ao franco francês,
belga e suíço. Uma lira equivalia a 4,5 gramas de prata ou 1,96 euros moeda
atual.
5 liras (R$34,00) era o preço da passagem de trem entre Vicenza e
Gênova, na classe econômica, que equivalia a diária de cinco dias de um
trabalhador braçal no norte italiano.
530 liras (R$3.548,00) era o valor de uma
passagem, mas o governo imperial brasileiro bancava o transporte.
360 liras
(R$2.410,00) equivalia ao salário anual de um trabalhador braçal no norte da
Itália.
Dez anos era o prazo que os imigrantes tinham para começar a pagar a
passagem e a ajuda de custo dada pelo governo.
O desembarque era no Rio de Janeiro. Daí seguiam para Santos, onde
desembarcavam aqueles imigrantes que tinham São Paulo como destino. Do porto
até a capital paulista, a viagem era feita de trem.
A viagem para o Rio Grande
do Sul prosseguia, com escalas em Paranaguá-PR e Florianópolis-SC, até a cidade
de Rio Grande. Por meio de Pelotas, os imigrantes que desembarcariam na serra
gaúcha ingressavam na Lagoa dos Patos e chegavam a Porto Alegre, onde
desembarcavam.
A demora da viagem variava de acordo com o porto de destino. Quem iria
para Garibaldi (Colônia Conde D’Eu) e Bento Gonçalves (Colônia Dona Isabel)
desembarcavam em Montenegro, depois de sete horas de viagem. Quem iria a
Caxias, descia no porto dos Guimarães, em São Sebastião do Caí, depois de dez
horas no barco. O trajeto seguinte, até o topo da serra, era feito a pé, com
ajuda de mulas e cavalos.
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Ilustração das repartições de navio transoceânico |
Referência; texto retirado do site www.zh.clicrbs.com.br